A importância dos fanzines para o Brasil

Na década de 1980 os fanzines no Brasil faziam as vezes das publicações lacunosas de HQ de autoria nacional. Foi nessa época que principiei a conhecer as tais publicações paratópicas (segundo Zavan), e já em meados da década oitentista, iniciei minha participação pelo zine Barata, que durou mais de 20 anos publicando quadrinhos, contos e poesias de uma maneira experimental e inovadora, editado por um grupo de universitários de comunicação da cidade de Santos e capitaneado por Flávio Calazans.

Foi meu ingresso nas HQ adultas e nas publicações, afinal! Um marco em minha vida que me levou a caminhos de descobertas e ampliações: na área das experimentações artísticas dos quadrinhos e nas dos fanzines e suas implicações respectivamente (tanto ao que tange o acadêmico como o artístico).

Aprofundando-me nesse métier fui percebendo o que deixou rastro na história do zine e da HQ nacional no Brasil, pois aqui os fanzines se estabeleceram muito pela aproximação das histórias em quadrinhos, ainda que no mundo inteiro essas revistas independentes paratópicas abordem temas diversos, sejam por meio de artigos e/ou artes como HQ, ilustrações, contos, poesias, contestações etc.



Henrique Magalhães, o pioneiro nessa pesquisa no Brasil, em seu livro “O que é Fanzine” pela editora Brasiliense elucidou que há diferenças de nomenclatura para classificá-las e distingui-las como fanzines (comportados de artigos) e como revistas independentes (comportadas de arte como as aqui mencionadas).

Porém, esse tipo incrível e criativo de revista paratópica mesmo foi criado em 1930 pelos fãs de ficção científica nos EUA como  boletins e o neologismo “Fanzine” veio uma década depois. Mas foi na cidade brasileira de Piracicaba no Estado de São Paulo, que se deu o expoente inicial dos fanzines com Edson Rontani, quando elaborou seu boletim Ficção (fig. 1), versando acerca de histórias em quadrinhos, com matérias sobre Alex Raymond, o criador de Flash Gordon.

Mas foi depois, numa das correspondências de leitores a Rontani, que o pioneiro tupiniquim veio a saber que estava fazendo um fanzine, termo que desconhecia, apesar dos zines já estarem circulando pelo mundo há mais de 30 anos (claro: a comunicação naquela época era limitada pois os computadores e redes virtuais de comunicação como a Internet ainda estavam sendo proto-planejadas). Assim, Edson Rontani, tendo tomado conhecimento do que fazia, seguiu criando seu segundo boletim simplesmente batizado como “Fanzine”.

Mas a elaboração de seu primogênito original “Ficção” se deu em 12 de outubro de 1965, data que, afinal, penso pode ser comemorada a partir desse ano de 2012 como o Dia Nacional do fanzine, a exemplo do dia 30 de janeiro, considerado o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos.

Esta minha idéia já fervilhava em minha mente e foi catapultada em artigo pretérito que escrevi para o livro FANZINES – Autoria, subjetividade e invenção de si (Fortaleza/CE: Editora UFC, 2010), quando a lancei numa nota de rodapé à página 33 do meu artigo escrito em dupla com Elydio dos Santos Neto “Dos zines aos biograficzines: compartilhar narrativas de vida e formação com imagens, criatividade e autoria”.

Por essa razão, decidi levar a público alertando os fanzineiros e organizadores da última edição da Fanzinada (fig. 2), ocorrida no dia 28 de abril de 2012 no Ateliê de Literatura e Criatividade em São Paulo/SP, fazendo uma rápida digressão apontando ao público presente que seria já o momento de impulsionar essa data comemorativa aos fanzines no Brasil!

A Fanzinada já é conhecida e começou agregando os fanzineiros graças à Thina Curtis (“Dona Fanzine”), tomando forma em 2011, promovendo a cultura do “faça-você-mesmo” não apenas na cidade de São Paulo, mas também em Goiânia e Porto Alegre, e pré-comemorando o dia internacional do fanzine (que em realidade se realiza no dia 29 de abril a partir de 2006).

Desde então a premissa do evento sempre tem sido trazer Fanzines, HQs, publicações independentes, documentários, mídias alternativas e muito mais desse universo paratópico, sendo que neste último houve a revenda do II Anuário de Fanzines produzido pela Ugrapress, e a exibição do segundo capítulo do documentário em vídeo Fanzineiros do Século Passado de Márcio Sno.

Foi então que repassei a situação ao público presente, de que se há o dia internacional do fanzine realizado no dia 29 de abril a partir de 2006 ainda que elaborado por um português e quase que totalmente desconhecido por outros países como a França (país que possui um grande local que abriga fanzines, chamado La Fanzinotheque), já era hora de incentivarmos o dia nacional do Fanzine, pois que este veículo extremamente criativo começa a ganhar mais espaço com eventos como esse da Fanzinada, bem como outros espalhados pelo país, e até inclusão em livros didáticos, como o “Língua Portuguesa” – 7º ano para a rede municipal de São Paulo, incentivando a criatividade dos estudantes na elaboração de fanzines.

É mister lembrar que eventos de fanzines vem ocorrendo há muitos anos como os já acontecidos em Araraquara (Araraquarazine), Jaboticabal, Itu, São Leopoldo com o evento “Subjetividades no Papel” (fig. 3) e outros internacionais que já existem há muitos anos, quer seja o Xornadas de Ourense na Espanha galega, com uma exposição internacional incluindo catálogo e que trazia em décadas passadas uma grande contribuição por parte dos fanzines brasileiros.

Há de se ressaltar ainda a importância da primeira fanzinoteca física brasileira, a Fanzinoteca Mutação criada por Law Tissot na cidade de Rio Grande (RS), que muito tem auxiliado na importância dos fanzines (fig. 4).

Assim, para estabelecer a data brasileira, nada mais óbvio que passarmos a realizar eventos também a cada ano no dia 12 de Outubro, pois conforme aqui esclareci, foi nesse dia do ano de 1965 que, graças a Edson Rontani, veio à baila o então boletim chamado por ele de Ficção, primeiro fanzine brasileiro sobre histórias em quadrinhos publicado, conforme asseverei. Há várias maneiras de se instituir um dia comemorativo, mas ressalto aqui que um “Projeto estabelece critério para instituição de datas comemorativas” já existe para conseguirmos levar a cabo a institucionalização futura dessa nova data comemorativa.

Atentemos então a este item: “Da deputada Sandra Rosado (PSB-RN), o projeto determina que datas comemorativas nacionais só possam ser instituídas se forem de alta significação para os diferentes segmentos profissionais, políticos, religiosos, culturais e étnicos que compõem a sociedade brasileira”; Nesse caso, os fanzines multitemáticos trabalham principalmente como laboratórios de experimentação criativa e educativa, e servem para segmentos profissionais, culturais e étnicos, pois unem as pessoas e os povos fraternalmente (pois não visam lucros), justificativa interessante como pontapé inicial de se realizar essa comemoração anual.

A data internacional (em termos) dos Fanzines pode até continuar sendo considerada, mas creio que na data comemorativa do dia 12 de outubro poder-se-ia realizar mais eventos culturais atinentes aos fanzines e fortalecer a importância deles no Brasil, até que algum dia futuramente possa ser oficializado esse dia (apesar de que, por ser em relação aos fanzines, não há muita necessidade atual de que se “oficialize” tal comemoração, pois os fanzineiros, fraternais e independentes como são, saberiam conduzir isso tranquilamente por conta própria, espargindo essa informação), pois as histórias em quadrinhos têm a força atual muito graças às possibilidades de publicação que ganharam espaço nos fanzines pretéritos de outrora, já que as editoras nacionais se esquivavam dos autores brasileiros. Com isso estaríamos também homenageando o impulso cultural que nos legou seu criador, Edson Rontani.

Além de sites e blogs que auxiliam nessa empreitada da divulgação desse Dia Nacional do Fanzine (como o Impulso HQ), uma nova Fanzinada ocorrerá no dia 15 de setembro na Livraria HQMIX, às 15h (endereço no link/), onde todos poderemos tornar a divulgar essa nova comemoração nacional que tentanmos implementar.

É assim que abrimos as portas a lançar aqui, afinal, a idéia de iniciarmos um movimento culminando na institucionalização cultural do “Dia Nacional do Fanzine”, a partir do dia 12 de outubro desse ano de 2012.  , ee que comecemos todos a redivulgar a demarcação dessa data comemorativa, coincidindo com o dia das crianças, simbolizando a ingenuidade, mas não só: a criatividade expansora dos magníficos e paratópicos multiformes e multitemáticos Fanzines, ou simplesmente zines!

Gazy Andraus
Doutor em Ciências da Comunicação, na área de Interfaces da Comunicação, pela ECA-USP, (premiado com a melhor tese de 2006 pelo HQ-MIX-2007), mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, pesquisador do NPHQ da ECA e do INTERESPE – Interdisciplinaridade e Espiritualidade, editor e autor independente de histórias em quadrinhos adultas de temática fantástico-filosófica. Tese: http://tesegazy.blogspot.com

2 comentários:

  1. Então 12 de outubro dia Nacional do Fanzine...

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